23 de novembro de 2009

Falando em graça...


Por esses dias tenho visto, ouvido e lido coisas sobre a graça que me parecem fugir um pouco ao sentido da graça que Jesus Cristo viveu. Quero discorrer brevemente sobre isso e apresentar basicamente três grupos distintos pensando nesse tema:

Por um lado há os assassinos da graça que matam espiritualmente as pessoas levando-as presas à sua lei e gerando todo tipo de opressão na alma e no espírito. Esse grupo tem mais prazer no cumprimento da lei do que em proporcionar a liberdade ao próximo, talvez agora não mais a Lei de Moisés, mas a sua própria lei, as suas próprias regras. A lei da satisfação do rito, do encobrir do mito, do fugir às questões de qualquer razão. São responsáveis pela continuação da religião cega dos tempos antigos mas que agora usa a roupa da modernidade sem, no entanto, mudar o princípio que rege seu funcionamento.

Estabelecem hierarquias que não podem ser tocadas, dogmas tão santificados que “ai daquele que tocar no ungido do Senhor”. Essa estrutura não permite questionamentos, nada que possa comprometer aqueles que estão em posição mais elevada na pirâmide hierárquica. Esquecem-se do que Jesus disse aos seus discípulos quando esses discutiam para saber quem era o maior, quem estava na parte de cima:

“E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve.” (Lucas 22: 25,26)

Jesus deixou bem claro: “Não sereis vós assim”! Não há um que domina! A obediência é um princípio do Reino mas não pode ser imposta. A desobediência é pecado, por isso nos sujeitamos uns aos outros em amor, mas isso só consegue fazer aqueles que vivem a graça de verdade.

O segundo grupo eu vou chamar de falsificadores da graça. São pessoas que usam a graça como pretexto para satisfazer sua própria vontade. Vontade essa que nunca se sacia, como a sanguessuga em Próverbios: “dá, dá”, sempre quer mais, sempre deseja um novo nível de “liberdade”. Esse grupo dá ênfase ao raciocínio puramente lógico na tentativa de interpretar a Bíblia de maneira a justificar suas atitudes egoístas. “Liberdade” é a palavra de ordem – ou desordem – que encabeça todo pensamento deturpado e distante do verdadeiro sentido da liberdade da graça.

O apóstolo Paulo, maior pregador da graça, disse que não vivemos para nós mesmos, mas para o Senhor (Rm 14:7); que não buscamos nosso próprio interesse, mas devemos atentar também para o que é dos outros (Fp 2:4); que não devemos destruir a obra de Deus na vida do próximo por causa de nosso prazer (Rm 14:20). Bem diferente da pregação e do comportamento observado atualmente nesse grupo.

O terceiro grupo é composto por pessoas que entendem (e também por aquelas que estão buscando entender) o sentido da graça baseado no mais perfeito exemplo: Jesus Cristo. Se lermos os evangelhos não encontraremos nenhum sermão sobre “o que é a graça”, no entanto, quando lemos o evangelho segundo escreveu João, logo no primeiro capítulo vemos uma informação extremamente importante para compreendermos esse assunto. No verso 16 ele revela: “recebemos da sua plenitude, e graça por graça”. Não há nenhum relato de sermão de Jesus Cristo sobre a graça, mas ele viveu a graça, porque ele era a própria graça de Deus revelada à humanidade.

Na carta de Paulo a Tito 2:11, 12 diz:

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos, neste presente século, sóbria, e justa, e piamente”

Ótimo exemplo do que é a graça! Primeiro a graça se manifestou para trazer salvação. Podemos ligar essa informação ao que está escrito em João 3:17 que diz que “Deus enviou seu filho não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”. Então a graça é Deus fazendo-se homem e vindo habitar em meios aos homens para trazer-lhes salvação – Jesus Cristo. Jesus Cristo deve ser a primeira impressão em nossa mente quando falamos sobre graça.

O interessante é que quando falamos: graça, a primeira palavra que associamos é: liberdade. Mas quando entendemos como está escrito acima, que Jesus é o maior exemplo da graça, a associação de palavras parece diferente. Se dissermos: Jesus. Qual a primeira palavra que vem à nossa mente? Pensamos em: amor, renúncia, compaixão, serviço, humildade... mas dificilmente vem à mente: liberdade! Por quê? Porque Cristo viveu, antes da liberdade, o amor, a renúncia, o serviço ao próximo, a compaixão, e isso é graça! Viver a graça é entender Deus em Cristo vivendo e morrendo para que nós tenhamos uma “melhor esperança”.

A graça não nos ensina a vivermos uma vida em torno de nossos desejos, mas como está escrito em Tito 2:12, nos ensina a renunciar a impiedade, a viver em santidade, a viver em justiça e retidão. Isso é graça. É a liberdade de Cristo em nós para libertar o próximo. Somos livres, do medo, da opressão, do pecado, da morte. Não somos livres da responsabilidade, do próximo, do amor, do serviço, da entrega. A graça não nos leva à omissão, ao contrário, ela nos traz à responsabilidade e ao trabalho, como Paulo escreveu em 1 Coríntios 15:10:

“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles, todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo”

A graça nos faz ser o que devemos ser, e nos faz trabalhar para que outros sejam também não o que somos ou o que queremos, mas o que Deus deseja que cada um seja.

A todos, graça e fé em Cristo.

Nelício Júnior

17.01.2009

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