23 de novembro de 2009

De onde tirar esperança


Seguramente a vitória do Presidente Bush e a nomeação de C. Rice para Secretária de Estado produziu grande abatimento em milhões de pessoas pelo mundo afora. Como é possível que a maioria dos eleitores ratificasse a linha política de Bush/Cheney que prevê enfrentar a violência com mais violência e promete intervir em qualquer parte do mundo onde interesses norte-americanos estão em jogo? É a suprema arrogância do império que pela primeira vez possui dimensões realmente planetárias. Mas aprendemos da história que não há império de mil anos, isso é coisa de nazistas, nem império de um século, isso é coisa dos ultraconservadores tanto mais ávidos de poder quanto mais curtos de visão. Todo império é derrubado, não por outro império mais forte, mas pela ânsia de liberdade dos cidadãos e pelo sentido de dignidade dos povos que é mais forte que a dominação.



Mas não esqueçamos o nosso país. Algumas derrotas eleitorais trouxeram decepções para muitos, derrotas que representam uma resposta do povo à taxa de iniqüidade social que a macroeconomia da equipe econômica produz. É verdade que as exportações cresceram, mas cresceu também, em parte por causa do superávit primário, o desemprego e o empobrecimento do povo a níveis piores que os da Etiópia, segundo os que conhecem lá e aqui.



Honestamente e angustiados nos perguntamos: que fazer com este mundo aqui e lá fora? De onde tirar esperança?



Tenho para mim que esta esperança não pode vir daquelas instâncias que estão produzindo a destruição da esperança. Depositou-se demasiada esperança em certos partidos de extração popular e em seus líderes carismáticos que chegaram ao poder. Ao invés da coragem para o novo, como prometeram, tornaram-se reféns da lógica do sistema com o argumento de que, de todas as formas, há de evitar o caos sistêmico. Ocorre que o caos social já se instalou e se agrava dia a dia. Ou a economia é para superar o caos social ou ela é uma forma perversa de continuada vitimação dos pobres no altar do deus Mamom. Nenhuma sociedade, minimamente ética, pode aceitar essa perversidade. Que não se espere nada desta política macroeconômica súcuba dos mercados.



Vamos beber esperança nas religiões e nas Igrejas, já que Ernst Bloch, com razão dizia: “Onde há religião, ai há esperança”? De fato, para os realmente pobres, as igrejas se transformaram em seu refúgio, o lugar onde bebem alguma esperança, embora, milagreira, alienada dos processos históricos e dos compromissos de mudança social. Mas encontram mesmo assim alguma razão para viver. Lamentavelmente para muitas destas Igrejas vale o dito espanhol: “Entre Deus e dinheiro, o segundo é primeiro”.



A fonte da esperança se encontra nas próprias vítimas. A esperança é a única coisa que lhes sobra, esperança de que, por adversa que seja a realidade, alguma coisa boa vai sair dela. Elas são portadoras da utopia mínima de que, um dia, todos vão poder comer, morar, ir ao médico quando doentes, mandar os filhos para a escola e tomar sua cervejinha com os amigos na sexta-feira à tarde e, quem sabe, ter uma aposentadoria que os deixe tranqüilos. E por fim, isso pensam os pobres sim, não Bush, nem Blair nem nossas elites, que é possível a humanidade sentir-se uma família, habitando todos juntos no planeta Terra, como irmãos e irmãs. Não são eles que nos lembram que a “esperança é a última que morre”?



Sitação: Leonardo Boff

Nenhum comentário:

Postar um comentário